segunda-feira, 24 de março de 2008

Sobre urubus e beija-flores

Existem textos que eu gostaria muito de ter escrito.
Esse é um deles.
Não sei quem escreveu, só sei que recebi em um momento em que realmente precisava ler.
Tenho várias coisas para escrever.
Mas não se preocupem, está tudo listado para eu não esquecer.
Leiam aí, bom mesmo.

beijos


Sobre urubus e beija-flores


Eu estava terminando a leitura de um artigo científico. De vez em quando é bom ler ciência. A gente fica mais sabido. Tudo explicadinho. No final das contas, tudo se deve a esse gigantesco infinitamente pequeno disquete que existe dentro das células do corpo chamado DNA. Nele está gravado o nosso destino.
Antes de existir, eu já estava "programado" inteiro: a cor dos meus olhos, as linhas do meu rosto, a minha altura, os cabelos brancos precoces, o seu adeus que nada
consegue evitar, o sexo. Dizem alguns que lá está até um relógio que marca quantos anos eu vou viver. E é implacável: o que a natureza põe, não há homem que disponha. Programa mais complicado que o DNA não existe. Tudo tem de acontecer direitinho, na ordem certa. E quase sempre acontece. Quase sempre... Vez por outra uma coisinha não
acontece segundo o programado. E o resultado é uma coisa diferente. Assim aparecem os daltônicos, que não vêem as cores do jeito como a maioria vê. Ou o canhoto, que tem de tocar violão ao contrário. De vez em quando, uma criança com síndrome de Down. E quem não me garante que Mozart não foi também um equívoco do DNA? Pelo que sei, a receita não se repetiu até hoje... O artigo prosseguia para mostrar que é assim que, vez por outra, aparecem pessoas com uma sensibilidade sexual diferente: os homossexuais. Tudo aconteceu lá no DNA: um relezinho que funcionou de maneira não programada. Primeiro, caiu o relê que determina o sexo, se vai ser homem ou mulher. Depois, o relê que determina os caracteres secundários, que fazem a "imagem" do homem e
da mulher. Por fim, o relê que determina o objeto que vai disparar as reações químicas e hidráulicas necessárias para o ato sexual. Esse objeto é uma imagem. Nos heterossexuais, é a imagem de uma mulher. Nas mulheres heterossexuais, é a imagem de um homem que faz o seu corpo estremecer. Acontece, entretanto, que por vezes esse último relê não funciona e a pessoa fica ligada à imagem do seu próprio sexo. A imagem que vai como­ver seu corpo é uma imagem semelhante à sua.
E isso que é ser homossexual.
O homossexualismo é uma condição estética. Tudo por obra do DNA.
Nada tem a ver com educação, com a mãe ou com o pai.
Ninguém é culpado, pois culpa só pode existir quando existe uma escolha. Mas ninguém escolheu. Foi o DNA que fez. E nem pode ser pecado. Pois pecado só existe onde existe culpa. E nem pode ser curado, pois o que a natureza fez não pode ser desfeito.
E foi nesse momento eu estava meditando sobre essas coisas que fogem à compreensão
dos homens, como a origem do DNA, o processo pelo qual ele foi estabelecido, se por acidente, se por tentativa e erro, se por obra de algum programador invisível — que uma coisa estranha aconteceu: um barulho como eu nunca ouvira, no meu jardim. Tirei os olhos do artigo, olhei através do vidro da janela e o que vi — inacreditável — um urubu, sim um urubu, batendo furiosamente as asas como s fosse um beija-flor, diante de uma flor de alamanda sugando o melzinho. Achei que estava tendo alucinação, mas não. Era verdade. O urubu, ao ver meu espanto, pousou no galho de uma árvore de sândalo e começou a se explicar, do jeito mesmo que acontecia. Sofro muito. Nasci diferente. Urubu, todo mundo sabe, gosta de carniça. Basta que se anuncie carcaça de algum cavalo morto, os olhos dos urubu ficam brilhando, a saliva escorre pelos cantos do bicos, a língua fica de fora — e lá vão eles churrasquear. Urubu acha carniça coisa fina, manjar divino! Eles não a trocariam por uma flor de alamanda por nada nesse mundo! Mas eu nasci diferente. Meus pais, coitado morreram de vergonha quando ficaram sabendo que eu, às escondidas, sugava o mel das flores. Compreensível.
O sonho de todo pai é ter um filho normal, isto é, igual a todos. Urubu normal gosta de carniça. Eu não gostava. Era anormal. Fiquei sendo objeto de zombaria. Na escola, logo descobriram minhas preferências alimentares. E impossível esconder. Se todo o mundo está comendo carniça e você não come, que explicação você pode dar? Aí meus pais começaram a sofrer, pensando que eu era assim por causa de alguma coisa errada que tinham feito na minha educação. Me mandaram para o padre. Severo, ele abriu um livro sagrado e disse que Deus, o Grande Urubu, estabelecera que carniça é o manjar divino. Urubu, por natureza e por vontade divina, tem de comer carniça. Chupar mel é contra a
natureza. Urubu que chupa mel de flor está em pecado mortal. Ter­minou dizendo que eu iria para o inferno se não mudasse meus hábitos alimentares. E me deu, como penitência, participar de cinco churrascos. Saí de lá me sentindo o mais miserável dos pecadores. Mas o medo não foi capaz de mudar o meu amor pelas flores. Não cumpri a
penitência. Meus pais me mandaram, então, para um psicanalista que cobrava R$120,00 por sessão. Todos os sacrifícios são válidos para fazer o filho ficar normal. A análise durou vários anos. Ao final, fui informado que eu gostava de mel porque odiava meu pai, a quem eu queria matar, para ficar sozinho com a minha mãe. Aí, além de pecador,
passei a sofrer a maldição de Édipo. Continuei a gostar do mel da flores. Por isso estou aqui, no seu jardim". Houve um momento de silêncio e eu vi o que nunca havia visto: um urubu chorando. Notei que sua lágrimas não eram diferentes das minhas. Aí ele continuou: Gosto das flores. Não quero gostar de carniça. Não quero ficar igual aos
outros. Só tenho um desejo: gostaria de não ter vergonha, gostaria que não zombassem de mim, chamando-me de 'beija flor', eu não sou beija-flor. Sou um urubu. Eu gostaria de ter amigos... O que me dói não é a minha preferência alimentar, pois não fui eu quem me fiz assim. O que me dói é minha solidão. Gosto de flores por culpa do DNA. Mas a minha solidão é por culpa dos outros urubus, que poderiam ser meus amigos". Ditas essas palavras, ele se despediu e voou par uma alamanda do jardim vizinho. E eu fiquei a pensar que o mundo seria mais feliz se todos pudessem se alimentar do que gostam, sem ter de se esconder ou se explicar. Afinal ninguém é culpado por aquilo que a natureza faz ou deixou de fazer.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Nada de obrigações

Nada de obrigações.
As relações se constituem por inúmeras razões, menos por obrigação.
Não, isso aqui não vai virar consultório sentimental e eu não estou nem um pouco interessada em arreganhar minha vida.
Mas existem coisas que precisam ser ditas, precisam ser de conhecimento de todos.
Então informo a vocês que não as relações não se constituem por obrigação de estar com o outro.
E isso vale pra amizade também, principalmente pra amizade.
Mas falar de relacionamento remete a amor.
Não tem jeito.
Então não vamos fugir a regra, não é?
Pronto.
Então já que não existem obrigações de fazer ao outro feliz, se não existem obrigações em estar com o outro, porque ficam então?
Porque se amam.
Ótimo, estamos por um bom caminho.
Agora me responde; se a relação traz dor, se isso e aquilo outro te incomoda, se dói, dói e dói, como é que faz?
Porque obrigações não existem, o que vale é o amor.
Então é preciso reconhecer os limites do amor e da dor.
Sim, o amor tem limites sim, sem esse papo de que o amor é sem limites e vai além do infinito, se o seu é assim, trate de colocar limites!
Reconhecendo os limites se faz necessário posicionar-se.
Mas o que pensar?
Se o amor existe!
Como fazer com a dor que insiste como resolver o que foi conversado e não foi mudado, o que fazer quando o medo de está sendo bobo vem à tona e nos vemos tomando atitudes inesperadas? Entra com a razão meu amigo, entre com a razão porque é a melhor coisa que você faz.
Se for deixar para esse tal de coração, vamos todos nos lenhar, to avisando!!!
Analisa as possibilidades, verifica qual a melhor atitude para doer menos e pronto.
E é aí que entra o amor por si.
Porque bem antes de amar o outro é preciso olhar pro umbigo, dar uma olhada de vinte minutos a cada três horas, não pode passar nem um segundo.
Ou cansamos, pedimos licença ao coração e caímos fora.
Ou as questões passam de fato a ser irrelevantes e não nos dói mais.
Ou o que foi conversado, dito e redito é mudado.
É tão simples quando chamamos a razão pra ajudar.
Isso tudo é pra não correr o risco de esquecermos de nós.
Isso não.
Porque aí sim temos obrigação.
Obrigação total de sermos felizes.
E seremos.

sexta-feira, 7 de março de 2008

...

O outro é melhor, é pior, ta errado, ta certo, tem que fazer assim, fazer assado.
Porque observar a vida do outro é bem melhor do que futucar a nossa.
É por isso que os BBB’s sempre fazem tanto sucesso, ali identificamos personagens e atitudes que tomamos durante a vida real, mas olhar pela tv é bem mais fácil.
Porque fala sério, já pensou você se identificar com Marcelo e perceber que toda vez que discute fala daquele jeito imbecil dele?
Ah não, o outro fazendo isso é melhor.
E é assim que começam os pitacos.
Pitaco = dar sugestão, opinião, emitir qualquer pensamento a respeito da vida alheia. Com ou sem permissão.
As pessoas têm certa dificuldade em viver suas vidas, tomarem suas decisões, mudar tudo, jogar pra cima e então aproveitam isso para então tomarem conta da vida de quem permite.
É um tal de jogar responsabilidade pra lá e pra cá.
Por isso que ouvimos tanto a famosa declaração apaixonada:
“Amor, minha felicidade está em suas mãos! “
Afinal de contas se não formos felizes culpamos ao outro, bem melhor!
Tá, tô meio confusa nesse texto.
Aliás, totalmente confusa.
Mas é que durante muito tempo eu fiz isso.
Fiquei dando pitacos na vida alheia e esqueci da minha.
Coloquei minha felicidade em mãos de outrem para ficar livre dessa responsabilidade.
Mas não adianta, chega um momento que a vida cobra as suas decisões, as suas escolhas, a sua história.
E aí tem duas saídas; finge que não é com você e segue em frente ou arregaça as mangas e mostra pra que veio.
O que a “mulher-maravilha” aqui escolheu?
Mangas arregaçadas, cara ao vento e vamos nessa.
Mas nada de pitacos alheios.
Cada um cuida da sua e a vida continua.